18.12.14

Mantendo as Coisas Plenas

Num campo
Sou a ausência
de campo.
É sempre assim.
Onde quer
que eu esteja
sou o que falta.

Quando ando
separo o ar
e o ar
sempre volta
para preencher o espaço
onde meu corpo esteve.

Todos temos razões
para andar.
Eu ando
pra manter as coisas plenas.

(Mark Strand. Tradução de Bernardo Carvalho)

16.12.14


Isso de mim que anseia despedida
(Para perpetuar o que está sendo)
Não tem nome de amor. Nem é celeste
Ou terreno. Isso de mim é marulhoso
E tenro. Dançarino também. Isso de mim
É novo. Como quem come o que nada contém.
A impossível oquidão de um ovo.
Como se um tigre
Reversivo,
Veemente de seu avesso
Cantasse mansamente.

Não tem nome de amor. Nem se parece a mim.
Como pode ser isso?
Ser tenro, marulhoso
Dançarino e novo, ter nome de ninguém
E preferir ausência e desconforto
Para guardar no eterno o coração do outro.

(Hilda Hilst. Cantares)