tag:blogger.com,1999:blog-315018682024-03-13T06:34:25.748-03:00AmpliusRafael R.http://www.blogger.com/profile/13847627489075806839noreply@blogger.comBlogger45125tag:blogger.com,1999:blog-31501868.post-77787775151772784252023-06-28T21:23:00.004-03:002023-06-28T21:23:49.281-03:00<p>"O mundo é para quem nasce para o conquistar</p><p>E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão".</p><p>(Álvaro de Campos)</p>Rafael R.http://www.blogger.com/profile/13847627489075806839noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31501868.post-59054068009241602242022-05-29T22:50:00.010-03:002022-05-30T06:16:47.014-03:00<p><b>epílogo</b></p><p><br /></p><p> Diz-me das tuas feridas abertas,</p><p>do ocaso, já lânguido,</p><p>na exausta pálpebra.</p><p><br /></p><p>Diz, para que o meu silêncio</p><p>afunde nossas mãos em hera</p><p>e o verde de outrora</p><p><br /></p><p>nos apodreça, erguendo</p><p>palma a palma, em muro,</p><p>o pó dos dias caídos.</p><p><br /></p>Rafael R.http://www.blogger.com/profile/13847627489075806839noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31501868.post-54290182375696262342022-01-20T19:09:00.003-03:002022-01-20T19:09:43.221-03:00<p> As horas da manhã se incendiaram </p><p>em dentes roxos:</p><p>é sempre tarde.</p><p><br /></p><p>(na imensidão do corpo</p><p>produzíamos adiamentos,</p><p>sussurros)</p><p><br /></p><p>tu me conduzias pela ponte</p><p>rumo ao precipício -</p><p>eu em tempo de olhar pétalas.</p><p><br /></p><p>e sem nenhum sobreaviso</p><p>sempre à vista de um gavião</p><p>pulávamos.</p><p><br /></p><p><br /></p>Rafael R.http://www.blogger.com/profile/13847627489075806839noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31501868.post-60825395942128596302021-12-13T19:30:00.006-03:002021-12-13T19:53:23.580-03:00<p> há tantos livros tantos</p><p>e para cada um deles uma infinidade de linhas -</p><p>em cada linha uma vasta composição</p><p>escondendo séculos de vida e morte.</p><p><br /></p><p>há tantos homens tantos</p><p>e para cada um deles uma infinidade de sombras -</p><p>em cada sombra uma vasta promessa</p><p>diluída em silêncios & feixes de luz.</p><p><br /></p><p>não: nada importa</p><p>senão diminuir o passo frente ao precipício</p><p>e contemplar em face ao delírio de flores na escarpa</p><p>a queda.</p>Rafael R.http://www.blogger.com/profile/13847627489075806839noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31501868.post-52234937371980337552021-03-26T13:09:00.003-03:002021-03-26T13:13:21.740-03:00entendo que é preciso o mistério <div>que me fará não poder descrever </div><div>teu seio </div><div>tua boca</div><div>a curva do teu pescoço: </div><div><br /></div><div>o teu corpo substantivo </div><div>morando nele a pergunta </div><div>a dor ancestral </div><div>o abismo composto de um </div><div>isto</div>Rafael R.http://www.blogger.com/profile/13847627489075806839noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31501868.post-61052943262417967432021-02-20T13:41:00.001-03:002021-02-20T13:41:49.478-03:00<p>traço um painel </p><p>fino </p><p>em brisa.</p><p>o vento aconchega as palavras</p><p>em dois ou três delírios.</p><p><br /></p><p>durmo no senão das missas,</p><p>no preceito enrugado das filas</p><p>:</p><p>algo queima do outro lado.</p><p><br /></p><p>observo.</p>Rafael R.http://www.blogger.com/profile/13847627489075806839noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31501868.post-60881752259637015562020-06-20T11:41:00.002-03:002020-06-20T11:41:54.554-03:00talvez porque desistir também seja um ato<br />
deponho as armas<br />
e deslizo entre o mínimo:<br />
<br />
veredas<br />
sussurros<br />
um quadro antigo preso<br />
na retina do tempo.<br />
<br />
como isto de sermos<br />
senão por aquilo que se denega:<br />
os objetos do porão.<br />
<br />
remanejar<br />
à faca sem gume<br />
à boca já seca<br />
à semente já rota<br />
um passo atrás<br />
<br />
para o futuro.Rafael R.http://www.blogger.com/profile/13847627489075806839noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31501868.post-52697273742561412752020-06-16T16:20:00.001-03:002020-06-16T16:20:16.285-03:00<b>pergunta aberta</b><br />
<br />
eu?Rafael R.http://www.blogger.com/profile/13847627489075806839noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31501868.post-19417425713617107252020-02-22T18:56:00.000-03:002020-02-22T18:56:02.174-03:00então a voltou a escrever como quem volta dos mortos<br />
e mais preciso, porque despojado<br />
da precedente histeria -<br />
ah o jovem louco partira-se<br />
cansado<br />
e só uma lágrima cristalizada<br />
um fio cortante da dor<br />
perpassava-o<br />
(sabendo que nada é importante<br />
nada, nem escrever<br />
nem estar vivo)<br />
<br />Rafael R.http://www.blogger.com/profile/13847627489075806839noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31501868.post-76215982800909567632020-02-12T16:10:00.000-03:002020-02-12T16:10:02.533-03:00Se eu não terminar ungido<br />
Se eu não correr do perigo<br />
Se eu não rezar só por egoísmo<br />
<br />
Se eu dormir sem sonhos<br />
<br />
Se eu não abraçar o inimigo<br />
Se eu não amar por vaidade<br />
Se eu me envaidecer sozinho<br />
<br />
Se eu cuspir o excesso<br />
<br />
Se eu não me abster do hálito da noite<br />
Se eu não sorrir de desespero<br />
Se eu não desesperar na morte<br />
<br />
Já está bom.Rafael R.http://www.blogger.com/profile/13847627489075806839noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31501868.post-88792940869620313142018-12-01T14:35:00.001-03:002018-12-01T14:36:36.642-03:00não tenho o tato dos deuses<br />
nem a fúria das crianças<br />
:<br />
a sorte me despiu.<br />
<br />
pela janela, os olhos<br />
dançam entre frutos de árvores<br />
e arlequins.<br />
<br />
já os dedos trançam um destino,<br />
esquecidos de si<br />
e de mim.Rafael R.http://www.blogger.com/profile/13847627489075806839noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31501868.post-12208109437114080192018-01-05T20:45:00.001-03:002018-01-05T20:45:03.491-03:00"[...] Já escrevi sobre esse corpo, sobre as dores que causei a outros e as que eu mesmo me impus, gravei com fogo meus poemas sobre minha pele. Só os doentes, os fracos, os feridos, são capazes de criar obras mestras. Sinto que escrevi a partir de um certo irreparável desespero e, ao mesmo tempo, a partir de uma irrefreável alegria. Uma alegria estranha porque é como se nascesse da dificuldade de sermos felizes. Do encontro desses fantasmas nasce minha escrita. A escrita é como as cinzas que restam de um corpo queimado. Para escrever é preciso queimar-se inteiro, consumir-se até que não reste nem um fragmento de músculo nem de ossos nem de carne. É um sacrifício absoluto e ao mesmo tempo é a suspensão da morte. É algo concreto, quando se escreve a vida fica suspensa e, portanto, fica suspensa também a morte. Escrevo porque é meu exercício privado de ressurreição. [...]"<br />
<br />
Raúl Zurita, poeta chileno.Rafael R.http://www.blogger.com/profile/13847627489075806839noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31501868.post-40052334861037058872017-03-20T22:38:00.002-03:002019-06-26T23:06:13.917-03:00Você, repisado. Dilacerado. Como uma conta que não fecha. Há a fabulação diária - um sol no qual é preciso crer -; uma renitência absurda, infame, heroica. Você se surpreende por ainda, no final das contas, ser capaz de sair da cama, compor gentilezas, fabular o humano; mesmo que em cada palavra ressoe o vazio, o grito, coisa-sem-nome entalada. Você não poderia, nem que quisesse, dar nome ao inferno: seu grande propósito é morrer entalado.Rafael R.http://www.blogger.com/profile/13847627489075806839noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31501868.post-10147017733312541542016-09-16T20:44:00.001-03:002016-09-16T20:47:22.913-03:00a escrita ainda é o que sobra.<br />
<br />
nas sobras dela o destino cisca suas migalhas.<br />
<br />
em cada migalha há um prenúncio.<br />
<br />
o prenúncio é a porta-palavra de onde se parte.<br />
<br />
o rio, no entanto, não deságua em nenhum mar.<br />
<br />
há um fluir e um marulhar e uma cristalização<br />
<br />
de seres que deslizam sob seu mistério.<br />
<br />
todo mistério é uma derrocada antecipada:<br />
<br />
é necessário despir-se de deuses e metafísicas<br />
<br />
pois todo o oculto dorme sob o sangue.<br />
<br />
de resto, nada mais.Rafael R.http://www.blogger.com/profile/13847627489075806839noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31501868.post-52117934792019139752016-09-16T02:20:00.003-03:002016-09-16T02:20:55.684-03:00sim senhora adornadora de sentidos<br />
sim senhora domesticadora de trens<br />
alucinatórios<br />
o mundo cedeu os demônios mentiram<br />
as rezas quebrantos maledicências<br />
nos conduzem<br />
sim vamos combalir senhora<br />
pela voracidade dos vermes que ora<br />
regurgitam<br />
sua baba<br />
- ainda não é hora -<br />
sim os vermes a resiliência<br />
o vírus adormecido no tempo<br />
a catacumba no fundo dos olhos<br />
um céu já desprovido do branco<br />
um sangue já desprovido do vermelho<br />
uma morte já desprovida do luto<br />
senhora.Rafael R.http://www.blogger.com/profile/13847627489075806839noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31501868.post-26363256399582687682016-09-16T02:08:00.001-03:002016-09-16T02:08:11.744-03:00era tudo noite<br />
os homens se desfaziam<br />
era tudo noite<br />
cães lambedores de sêmen<br />
pétalas rijas<br />
um olhar empedrado de lua.<br />
<br />
era tudo sombra<br />
de orações aprisionadas<br />
era tudo sombra<br />
de sexos e bocas cálidas.<br />
<br />
sua boca arrefecia o luar<br />
apagava o choro -<br />
<br />
as crianças acordavam.Rafael R.http://www.blogger.com/profile/13847627489075806839noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31501868.post-43505228211147135872016-09-15T11:59:00.002-03:002016-09-15T11:59:52.485-03:00e já não há mais rotas<br />
estamos rotos<br />
sem pouso -<br />
a letra é morta.<br />
<br />
a dança acrobática<br />
o riso louco<br />
o passo mouco -<br />
nada fere a casca.<br />
<br />
a rima, se há,<br />
se enquadra no poema -<br />
há metro<br />
diagram-<br />
ação org<br />
anicidad<br />
e poética<br />
<br />
fugi<br />
fugi<br />
fugi<br />
<br />
para onde<br />
<br />
?Rafael R.http://www.blogger.com/profile/13847627489075806839noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31501868.post-73221057904404253132016-08-20T17:50:00.001-03:002016-08-22T14:51:04.210-03:00<b>deâmbulo</b><br />
<br />
estamos sozinhos,<br />
não saímos:<br />
arco-íris pintados nas paredes<br />
amor em touchscreen<br />
beijos de látex.<br />
<br />
ainda na pele esverdeada<br />
um filete de sangue<br />
a lágrima invertida<br />
o pau - animal resiliente -<br />
babando.<br />
<br />
ainda uma memória<br />
semi-palpável.<br />
ainda o acre<br />
da faca nos dentes,<br />
rangentes.<br />
<br />Rafael R.http://www.blogger.com/profile/13847627489075806839noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31501868.post-44395445522198222122016-07-31T10:47:00.001-03:002016-07-31T11:17:01.906-03:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjliV5-Zhnx9d9duT_-BkgwJHMP4o1ifGHIBicbNs5crZC5nWqHaorsSodUOCJ6bdXji5Z13zYN1KJom65DGHAVE_ozzkqThF9yRlxvMTGcBDks1V46cq9bwicVAev6IcnGVR_ISQ/s1600/ng7395877.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="271" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjliV5-Zhnx9d9duT_-BkgwJHMP4o1ifGHIBicbNs5crZC5nWqHaorsSodUOCJ6bdXji5Z13zYN1KJom65DGHAVE_ozzkqThF9yRlxvMTGcBDks1V46cq9bwicVAev6IcnGVR_ISQ/s400/ng7395877.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<b>o papa em auschwitz</b><br />
<br />
o papa esteve em auschwitz.<br />
algo do papa esteve em auschwitz<br />
quando suas mãos tocaram a pedra fria<br />
já desvestida do horror.<br />
<br />
o papa esteve em auschwitz<br />
e uma criança e um santo<br />
e o judeu esfomeado<br />
clamaram em sua divinizada cabeça.<br />
<br />
em auschwitz, o papa:<br />
o rito da dor e da misericórdia<br />
encontrou rostos contritos<br />
e o vento lavrou cópia de tudo.<br />
<br />
(câmeras, muitas câmeras,<br />
flashes e tempo real e trajes a rigor<br />
quando um papa em auschwitz)<br />
<br />
em auschwitz o papa<br />
de uma indumentária imaculada<br />
encontrou bocas para as suas mãos<br />
encontrou o papamóvel para as suas pernas<br />
<br />
o papa não encontrou deus.Rafael R.http://www.blogger.com/profile/13847627489075806839noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31501868.post-5021001429789502462016-07-30T20:48:00.000-03:002016-07-31T11:10:57.963-03:00<b>registro</b><br />
<br />
lembro de uma vez ter escrito teu nome em pedra.<br />
tu não sabes que escrevi<br />
teu nome em pedra.<br />
<br />
puro engano: hoje sei<br />
que a pedra nada sabe do teu nome<br />
nem teu nome - posto que não sabes - dela.<br />
<br />
a pedra permanece, mercê de contratempos,<br />
ígneas concavidades<br />
e um registro alheio à sua natureza.<br />
<br />
estranhos:<br />
três seres hoje descompactados<br />
além de um estrago<br />
no peito<br />
na pedra.<br />
<br />Rafael R.http://www.blogger.com/profile/13847627489075806839noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31501868.post-46837726036840097152016-07-30T16:25:00.001-03:002016-07-30T20:16:01.626-03:00pois que me tornei o arauto do oco<br />
do desplante<br />
do descaso<br />
da ferida -<br />
<br />
do silêncio dito em mordidas<br />
no pão seco<br />
na palavra utilitária<br />
no aceno desvalido.<br />
<br />
sonâmbulo em vigília<br />
abortado de contiguidades<br />
assassinado sem vestígios -<br />
<br />
há um frio de que não me abrigo<br />
há um calor de que não disponho<br />
há uma fome em que me entranho<br />
<br />
e me estranho, ainda, apesar-de, estar.<br />
<br />Rafael R.http://www.blogger.com/profile/13847627489075806839noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31501868.post-68433288684296458272016-07-11T15:25:00.000-03:002016-07-11T15:25:42.711-03:00Talvez a descoberta partilhada a medo<br />
E o tato<br />
O cheiro-húmus da tua boca<br />
Possam me refazer me deslocar<br />
Dali onde tudo era silêncio.Rafael R.http://www.blogger.com/profile/13847627489075806839noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31501868.post-21681443758879320892016-07-11T15:24:00.001-03:002016-07-11T15:24:35.680-03:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvWU4SZ9Jvl65a5joh7VjVD1fPHeuj6P8Ken6wMCsy2vA189Usf44Hh6oKT5-EUJwu0Qvuao0IQUWm5gFaZDVDljAmzabjWDSQ3VilsrOAiNPxgrNrKoPQ8BuKwOqS3YP8vgEWnA/s1600/20160708_115137.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvWU4SZ9Jvl65a5joh7VjVD1fPHeuj6P8Ken6wMCsy2vA189Usf44Hh6oKT5-EUJwu0Qvuao0IQUWm5gFaZDVDljAmzabjWDSQ3VilsrOAiNPxgrNrKoPQ8BuKwOqS3YP8vgEWnA/s400/20160708_115137.jpg" width="300" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both;">
E como ficou chato ser moderno. </div>
<div class="separator" style="clear: both;">
Agora serei eterno. </div>
<div class="separator" style="clear: both;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both;">
Eterno! Eterno!</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
O Padre Eterno, </div>
<div class="separator" style="clear: both;">
a vida eterna, </div>
<div class="separator" style="clear: both;">
o fogo eterno. </div>
<div class="separator" style="clear: both;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both;">
(Le silence éternel de ces espaces infinis m'effraie.)</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both;">
— O que é eterno, Yayá Lindinha?</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
— Ingrato! é o amor que te tenho. </div>
<div class="separator" style="clear: both;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both;">
Eternalidade eternite eternaltivamente</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
eternuávamos</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
eternissíssimo</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
A cada instante se criam novas categorias do eterno. </div>
<div class="separator" style="clear: both;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both;">
Eterna é a flor que se fana</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
se soube florir</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
é o menino recém-nascido</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
antes que lhe dêem nome </div>
<div class="separator" style="clear: both;">
e lhe comuniquem o sentimento do efêmero</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
é o gesto de enlaçar e beijar</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
na visita do amor às almas</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
eterno é tudo aquilo que vive uma fração de segundo</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
mas com tamanha intensidade que se petrifica e </div>
<div class="separator" style="clear: both;">
[nenhuma força o resgata</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
é minha mãe em mim que a estou pensando</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
de tanto que a perdi de não pensá-la</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
é o que se pensa em nós se estamos loucos</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
é tudo que passou, porque passou</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
é tudo que não passa, pois não houve</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
eternas as palavras, eternos os pensamentos; e</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
[passageiras as obras. </div>
<div class="separator" style="clear: both;">
Eterno, mas até quando? é esse marulho em nós de um</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
[mar profundo.</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
Naufragamos sem praia; e na solidão dos botos</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
[afundamos.</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
É tentação a vertigem; e também a pirueta dos ébrios. </div>
<div class="separator" style="clear: both;">
Eternos! Eternos, miseravelmente.</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
O relógio no pulso é nosso confidente.</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both;">
Mas eu não quero ser senão eterno.</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
Que os séculos apodreçam e não reste mais do que uma</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
[essência</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
ou nem isso. </div>
<div class="separator" style="clear: both;">
E que eu desapareça mas fique este chão varrido onde</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
[pousou uma sombra</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
e que não fique o chão nem fique a sombra</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
mas que a precisão urgente de ser eterno bóie como</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
[uma esponja no caos</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
e entre oceanos de nada</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
gere um ritmo.</div>
<div class="separator" style="clear: both;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both;">
- Drummond.</div>
<br />Rafael R.http://www.blogger.com/profile/13847627489075806839noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31501868.post-34070375962862521872016-01-26T05:59:00.004-03:002016-01-26T10:11:55.661-03:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGntfFgJGvIDYCNcprWHAY0iwXm5eqGSvidsu3TP4cwZN9ITb-bmi1O39pyeH9VeotbFoHC5-zAB2G0onZ0PpTCMvA2rpG_nIwdxNlNZBFGLRlRh2b1bm5lxhPltZTox7hQeTw_A/s1600/zumbis.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="225" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGntfFgJGvIDYCNcprWHAY0iwXm5eqGSvidsu3TP4cwZN9ITb-bmi1O39pyeH9VeotbFoHC5-zAB2G0onZ0PpTCMvA2rpG_nIwdxNlNZBFGLRlRh2b1bm5lxhPltZTox7hQeTw_A/s400/zumbis.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
Falar de poesia, como coisa ainda viva<br />
Contornar a si mesmo - coisa ainda viva -<br />
Aparando os excessos do eu<br />
Divergindo da voz no instante mesmo<br />
em que a voz nasce, cresce, zumbe.<br />
<br />
Calar a poesia - porque o tempo urge<br />
e é feroz -<br />
Em cada golpe de faca um ultimato<br />
ao lirismo podre de velho.<br />
<br />
Pelas ancas nuas do Abismo<br />
os amores jamais existirão:<br />
sob uma lua sanguinolenta,<br />
em transes de fúria,<br />
cadáveres do passado esmurram vidros.<br />
<br />
:::AVISO:::<br />
Procura-se no átimo do soco<br />
Nas vítimas que jazem em sacos<br />
ESSA voz.<br />
<br />
<br />Rafael R.http://www.blogger.com/profile/13847627489075806839noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-31501868.post-88213054014337390752015-12-14T00:15:00.001-03:002015-12-14T00:15:04.708-03:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiV7ahqqbww06Je7ioK0dI-2gemcSdXBEriCwn4sSyrM4viEcbwytl2HSF8Bifm-EYXdZrLBFXzpZ5i7WMxvw8KL5WM__IMLwztn4t7-7eM3X8qxOHG8erfrucd7AbWP3CIJJ39Sg/s1600/drummond.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiV7ahqqbww06Je7ioK0dI-2gemcSdXBEriCwn4sSyrM4viEcbwytl2HSF8Bifm-EYXdZrLBFXzpZ5i7WMxvw8KL5WM__IMLwztn4t7-7eM3X8qxOHG8erfrucd7AbWP3CIJJ39Sg/s320/drummond.jpg" width="238" /></a></div>
<br />
VERSOS À BOCA DA NOITE<br />
<br />
Sinto que o tempo sobre mim abate<br />
sua mão pesada. Rugas, dentes, calva...<br />
Uma aceitação maior de tudo,<br />
e o medo de novas descobertas.<br />
<br />
Escreverei sonetos de madureza?<br />
Darei aos outros a ilusão de calma?<br />
Serei sempre louco? sempre mentiroso?<br />
Acreditarei em mitos? Zombarei do mundo?<br />
<br />
Há muito suspeitei o velho em mim.<br />
Ainda criança, já me atormentava.<br />
Hoje estou só. Nenhum menino salta<br />
de minha vida, para restaurá-la.<br />
<br />
Mas se eu pudesse recomeçar o dia!<br />
Usar de novo minha adoração,<br />
meu grito, minha fome...Vejo tudo<br />
impossível e nítido, no espaço.<br />
<br />
Lá onde não chegou minha ironia,<br />
entre ídolos de rosto carregado,<br />
ficaste, explicação da minha vida,<br />
como os objetos perdidos na rua.<br />
<br />
As experiências se multiplicaram:<br />
viagens, furtos, altas solidões,<br />
o desespero, agora cristal frio,<br />
a melancolia, amada e repelida,<br />
<br />
e tanta indecisão entre dois mares,<br />
entre duas mulheres, duas roupas.<br />
Toda essa mão para fazer um gesto<br />
que de tão frágil nunca se modela,<br />
<br />
e fica inerte, zona de desejo<br />
selada por arbustos agressivos.<br />
(Um homem se contempla sem amor,<br />
se despe sem qualquer curiosidade.)<br />
<br />
Mas vêm o tempo e a idéia do passado<br />
visitar-te na curva de um jardim.<br />
Vem a recordação, e te penetra<br />
dentro de um cinema, subitamente.<br />
<br />
E as memórias escorrem do pescoço,<br />
do paletó, da guerra, do arco-íris;<br />
enroscam-se no sono e te perseguem,<br />
à busca de pupila que as reflita.<br />
<br />
E depois das memórias vem o tempo<br />
trazer novo sortimento de memórias,<br />
até que, fatigado, te recuses<br />
e não saibas se a vida é ou foi.<br />
<br />
Esta casa, que miras de passagem,<br />
estará no Acre? na Argentina? em ti?<br />
que palavra escutaste, e onde, quando?<br />
seria indiferente ou solidária?<br />
<br />
Um pedaço de ti rompe a neblina,<br />
voa talvez para a Bahia e deixa<br />
outros pedaços, dissolvidos no atlas,<br />
em País-do-riso e em tua ama preta.<br />
<br />
Que confusão de coisas ao crepúsculo!<br />
Que riqueza! sem préstimo, é verdade.<br />
Bom seria captá-las e compô-las<br />
num todo sábio, posto que sensível:<br />
<br />
uma ordem, uma luz, uma alegria<br />
baixando sobre o peito despojado.<br />
E já não era o furor dos vinte anos<br />
nem a renúncia às coisas que elegeu,<br />
<br />
mas a penetração no lenho dócil,<br />
um mergulho em piscina, sem esforço,<br />
um achado sem dor, uma fusão,<br />
tal uma inteligência do universo<br />
<br />
comprada em sal, em rugas e cabelo.<br />
<i><br /></i>
<i> Carlos Drummond de Andrade </i>Rafael R.http://www.blogger.com/profile/13847627489075806839noreply@blogger.com0