não tenho o tato dos deuses
nem a fúria das crianças
:
a sorte me despiu.
pela janela, os olhos
dançam entre frutos de árvores
e arlequins.
já os dedos trançam um destino,
esquecidos de si
e de mim.
1.12.18
5.1.18
"[...] Já escrevi sobre esse corpo, sobre as dores que causei a outros e as que eu mesmo me impus, gravei com fogo meus poemas sobre minha pele. Só os doentes, os fracos, os feridos, são capazes de criar obras mestras. Sinto que escrevi a partir de um certo irreparável desespero e, ao mesmo tempo, a partir de uma irrefreável alegria. Uma alegria estranha porque é como se nascesse da dificuldade de sermos felizes. Do encontro desses fantasmas nasce minha escrita. A escrita é como as cinzas que restam de um corpo queimado. Para escrever é preciso queimar-se inteiro, consumir-se até que não reste nem um fragmento de músculo nem de ossos nem de carne. É um sacrifício absoluto e ao mesmo tempo é a suspensão da morte. É algo concreto, quando se escreve a vida fica suspensa e, portanto, fica suspensa também a morte. Escrevo porque é meu exercício privado de ressurreição. [...]"
Raúl Zurita, poeta chileno.
Raúl Zurita, poeta chileno.
Assinar:
Postagens (Atom)